Do Caos à Clareza: A Nova Era do Código e da Consciência

Do caos à clareza.
Essa é a sensação que eu tenho depois de seis meses de implantação intensa de Gen AI em empresas de tecnologia — incluindo as minhas. Em 2025, conseguimos construir coisas que, até pouco tempo atrás, eram simplesmente inviáveis. Não só em termos de qualidade, mas também em escala, produtividade e maturidade técnica.

Sim, o uso de inteligência artificial generativa tem acelerado em massa o universo das empresas de software. E não dá pra negar: ela vem resolvendo (e ainda está refinando) um problema que surgiu no período pandêmico, quando a pressão por transformação digital quase colapsou equipes técnicas. Naquele momento, o mercado explodiu de forma caótica. A demanda por desenvolvedores disparou e não havia gente suficiente pra atender.

Tivemos vários casos “Soham Parekh” espalhados por startups e empresas tradicionais. Tudo bem, cada um conduz sua carreira como quer. O que importa é deixar os termos claros no contrato, e depois, se houver quebra, decidir o que fazer com maturidade. Mas o que ficou evidente é que, depois de um superaquecimento do setor, com migração em massa de profissionais de outras áreas para o desenvolvimento, agora vivemos a fase da IA. E com ela veio a tal “vibe coding” — um hype que, sinceramente, talvez nem seja só hype, apesar de tanta gente desdenhar o valor do código gerado por IA.

Preciso admitir: esse estilo mais leve de codar, com prazer, sem estresse, tem trazido benefícios reais. E a entrada disso em ambientes profissionais está mostrando um novo jeito de produzir.

Quando você sai da posição de principal executor para assumir a de quem orquestra a execução, algo muda. Surge uma liberdade criativa que estimula o pensamento crítico. E isso é raro, especialmente em times técnicos grandes que atuam no automático há anos. Na real, nunca conheci uma liderança ou founder que não tivesse problema com área de produto, desenvolvimento ou projetos. Transformar uma ideia em algo útil é lento. E boa parte de quem escolhe programação ainda atua no modo “recebo demanda, executo demanda”. Se der erro, ninguém se responsabiliza. Vão cobrar de novo, o dev muda e segue. Sempre a culpa é do produto que “não soube explicar o que queria”. É exaustivo. E triste ver tantos perfis que só fazem, não pensam.

A tecnologia sofre com isso. Mas eu entendo: empresas precisam de organização, papéis bem definidos. Só que agora, com Gen AI, estamos sendo forçados a sistematizar melhor, pensar mais criticamente, cuidar mais da usabilidade. Antes, testar e entender o usuário era demorado. Hoje, a gente valida protótipos funcionais em poucas semanas. O ganho de tempo é absurdo. E o potencial pra médio e longo prazo é ainda mais.

Provavelmente daqui um ano estarei tão surpresa quanto hoje. Novas ferramentas surgirão pra resolver coisas que antes eram insuportáveis de construir, testar, validar.

Claro que, como em qualquer mudança, tudo depende de como você conduz o processo. E embora o potencial seja grande, tem um limbo que me preocupa. A IA vem sendo usada, em massa, pra resolver tarefas cansativas e caras. E em breve, com tantos problemas resolvidos, algumas funções vão desaparecer. Já estamos vendo isso. O mercado vai se reinventar — aliás, já está.

O cargo mais desejado da tecnologia já mudou. Agora é engenharia de prompt. Quem executava vai virar orquestrador. O que antes era lento está ficando rápido. E mais soluções continuam surgindo. O que eu enxergo no futuro é um dilema real: o que faremos com nossa humanidade quando a máquina fizer tudo que a gente fazia no automático? Como vamos existir nesse novo espaço onde saber quem somos importa tanto quanto saber o que fazemos?

É hora de olhar pra nossa condição humana. De entender que não é só sobre trabalho. O velho drama noventista de “sofrer pra conquistar” está ruindo. Vamos precisar nos reinventar. Muita gente foi criada pra apenas trabalhar. E de forma nada inteligente. Só que o futuro não tem espaço pra isso.

Em 2009, quando comecei a estudar cuidado centrado na pessoa, eu estava entrando no mercado de tecnologia em saúde. Na época, os pilares pra um ecossistema mais humano e sustentável já estavam dados:

  • Engajar e empoderar pessoas e comunidades

  • Reforçar a governança e a prestação de contas

  • Reorientar o modelo de cuidado

  • Coordenar os serviços dentro e entre os setores

  • Criar um ambiente favorável

Hoje, vejo que precisamos retomar esse olhar. O cuidado centrado na pessoa reconhece e integra as necessidades espirituais como parte essencial do bem-estar. Espiritualidade aqui não é religião. É sobre valores, crenças, propósito, o que dá sentido à vida. E isso tem impacto direto na saúde e no processo de cura.

Em tempos de IA, resgatar o senso de humanidade é essencial. Parte disso passa por espiritualidade — não como dogma, mas como essência. O futuro vai nos obrigar a falar mais sobre isso. Sobre quem somos no meio do caos. E sobre como encontrar clareza.

Estou falando aqui sobre avanços em software, mas esse impacto é transversal. Ele já chegou em todas as áreas. Em vez de discutir se o Cursor é inútil sem um dev experiente, talvez devêssemos refletir sobre o tempo que levamos pra modelar um contexto que vá além de só gerar código. Pensar no impacto real da tecnologia na nossa condição humana.

Não vejo isso como o fim de nada. Vejo como uma oportunidade gigante de reconexão.

A vibe coding, goste você ou não, tem me feito viver mais o presente. Tornou minha rotina menos esgotante, algo que antes parecia sem fim. Mudanças pequenas, mas com impactos grandes, me fizeram voltar a me conectar com o que acredito — e respirar além do trabalho.

Faz sentido aí? Porque se faz, talvez seja hora de aprofundar.

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